Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nEsp.a1214

Palavras-chave:

conto, poesia, brevidade

Resumo

Se nos propusermos ler os contos «Missa do Galo», de Machado de Assis (1893), e «Civilização» (1892), de Eça de Queirós, à luz da pauta catego­rial do conto, verificamos que a inquestionável modernidade da narrativa breve de Machado não se mostra propriamente reconhecível no conto queirosiano. Na esteira já antiga (mas inquestionavelmente moderna) de Poe, o conto de Machado procura mostrar por que razão o exercício narra­tivo é, neste género literário, tão necessário como malquisto – porque há sempre nele uma história para contar, mas dela conta-se apenas o seu ros­to mais visível, cujo perfil secreto parece preferir recolher-se à virtualida­de significativa de um instante que abre depois para o que o transcende em possibilidade de significação. Por seu lado, o conto de Eça, publicado pela primeira vez em 1892 na portuguesa Gazeta de Notícias (e que viria posteriormente a figurar como matriz do romance A cidade e as serras, publicado em 1901), não acolhe a discursividade de fotograma que enfor­ma o conto de Machado de Assis, ainda hoje profundamente moderno na defesa compositiva de uma brevidade que não pode medir-se em função do fio de lógica ditado pelo número.

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Biografia do Autor

Isabel Cristina Rodrigues, Universidade de Aveiro

É Professora Catedrática do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, onde leciona desde 1991, tendo apresentado uma dissertação de doutoramento sobre a obra de Vergílio Ferreira (A Palavra Submersa. Silêncio e Produção de Sen­tido em Vergílio Ferreira), publicada em 2016 pela INCM e à qual foi atri­buído, em 2017, o Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Exerce maioritariamente a sua docência e investigação nos domínios da Literatura Portuguesa Contemporânea e da Teoria da Literatura. Em extensão do seu percurso académico, tem integrado júris de prémios literários como os da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, bem como o painel de Estudos Literários encarregado da avaliação de Projetos de Doutoramento e Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

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Publicado

2024-04-21

Como Citar

Rodrigues, I. C. (2024). Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade. Convergência Lusíada, 35(Esp.), 12–40. https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nEsp.a1214