Mia Couto: representação e subalternidade, em Mulheres de cinza

  • José Paulo Cruz Pereira Universidade do Algarve
Palavras-chave: Representação, Subalternidade, heterogeneidade;, suspensão, neutro, testemunhar

Resumo

A nossa leitura incide sobre: a) a representação da subalternidade em Mulheres de Cinza; b) as implicações de sentido do complexo processo de nomeação da voz narradora de Imani, transversal à trama ficcional dos três romances de As Areias do Imperador. Parte, com esse propósito, da ponderação do duplo sentido de «representação» em Can the Subaltern Speak?, de Gayatri Spivak, analisando: a) a forma como aí se alinham os pressupostos de O 18 do Brumário de Louis Bonaparte, de Karl Marx, e de A Questão Meridional, de Antonio Gramsci, na descrição do seu conceito de subalterno; b) a forma como, em Mulheres de Cinza, se projeta a sua configuração do subalterno como excluído. Fá-lo pondo a descoberto quer a instância do neutro, de que nos fala Maurice Blanchot – em L’entretien infinit... –, quer a da singularidade, tal como Spivak a desdobra em An Aesthetic Education in the Era of Globalization – lidos como investidos numa das fábulas com as quais Mia Couto os alegoriza.

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Biografia do Autor

José Paulo Cruz Pereira, Universidade do Algarve

José Paulo Cruz Pereira nasceu na Ilha de Moçambique. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, onde defendeu, em 1996, uma tese de Mestrado em Literatura Comparada, mais tarde publicada com o título Uma Cartografia transtornada: a Guernica de Carlos de Oliveira. Doutorou-se em 2004, também em Literatura Comparada, pela Universidade do Algarve, onde leciona as disciplinas de Literaturas Estrangeiras de Língua Portuguesa II e Comunicação na Contemporaneidade e tem ensinado em diversos mestrados – nas áreas dos Estudos Pós-coloniais e dos Estudos Culturais, as quais investiga, como membro do grupo 7 do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias.

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Publicado
2021-06-30
Como Citar
Cruz Pereira, J. P. (2021). Mia Couto: representação e subalternidade, em Mulheres de cinza. Convergência Lusíada, 32(45), 32-63. https://doi.org/10.37508/rcl.2021.n45a426