Mia Couto: escrita e racismo — ou “a arrogância de um único saber”...

  • José Paulo Cruz Pereira Universidade do Algarve
Palavras-chave: escrita, oralidade, racismo, teologia, signo

Resumo

Seguimos aqui a distinção estabelecida por Mia Couto entre a escrita como criação literária — um modo de “descoberta da alteridade” — e a escrita como dispositivo técnico e valor cultural que dela nos pode privar. Tomada em sentido metafísico, enquanto representação secundária e exterior do signo — “um significante do significante” —, a escrita é criticamente retomada, por Jacques Derrida, como traço interno à própria linguagem. É também do mesmo ponto de vista crítico que leremos, não apenas Michel de Certeau, em L’Écriture de l’histoire, acerca de uma modernidade colonial marcada pela oposição binária escrita/oralidade, mas também a ideia de Mia Couto de que, se cultural e politicamente dada como fonte de um “único saber”, o sentido comum de escrita pode revelar-se como um último reduto do racismo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José Paulo Cruz Pereira, Universidade do Algarve

Nasceu na ilha de Moçambique. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, onde defendeu, em 1996, tese de mestrado em Literatura Comparada, mais tarde publicada com o título Uma cartografia transtornada: a Guernica de Carlos de Oliveira. Doutorou-se, em 2004, em Literatura Comparada pela Universidade do Algarve, onde leciona Literaturas Estrangeiras de Língua Portuguesa II e Comunicação na Contemporaneidade, e tem ensinado em diversos mestrados — nas áreas dos Estudos Pós-coloniais e dos Estudos Culturais, as quais atualmente investiga como membro do Grupo 7 do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL).

Referências

ADORNO, Theodor. Esprit du monde et histoire de la nature: digression sur Hegel. Dialectique négative. Paris: Payot, 2001.

AGAMBEN, Giorgio. Temps et histoire: critique de l’instant et du continu. Enfance et histoire. Paris: Payot & Rivages, 2000.

BHABHA, Homi K. The postcolonial and the postmodern: the question of agency. The Location of Culture. New York: Routledge, 1994.

CERTEAU, Michel de. Ethnographie: l’oralité, ou l’espace de l’autre: Léry. L’écriture de l’histoire. Paris: Gallimard, 1975.

COUTO, Mia. Línguas que não sabemos que sabíamos. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. Lisboa: Caminho, 2009a.

COUTO, Mia. Quebrar armadilhas. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. Lisboa: Caminho, 2009b.

COUTO, Mia. Encontros e encantos: Guimarães Rosa. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. Lisboa: Caminho, 2009c.

COUTO, Mia. Luso-afonias: a lusofonia entre viagens e crimes. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. Lisboa: Caminho, 2009d.

COUTO, Mia. Desemparedar o pensamento. O universo num grão de areia. Lisboa: Caminho, 2019.

DERRIDA, Jacques. La fin du livre et le commencement de l’écriture. De la grammatologie. Paris: Minuit, 1967a.

DERRIDA, Jacques. La Violence de la lettre: de Lévi-Strauss à Rousseau. De la grammatologie. Paris: Minuit, 1967b.

DERRIDA, Jacques. La Pharmacie de Platon. La Dissémination. Paris: Seuil, 1972.

DERRIDA, Jacques. My chances/Mes chances. A rendezvous with some epicurean stereophonies. Psyché: Inventions of the Other. Stanford UP, 2007. v. I.

FOUCAULT, Michel. Two lectures. Power/knowledge: selected interviews and other writings: 1972-1977. New York: Pantheon Books, 1980.

FOUCAULT, Michel. L’Herméneutique du sujet: cours aux Collège de France: 1981-1982. Paris: Seuil/Gallimard, 2001a.

FOUCAULT, Michel. Nietzsche, la généalogie, l’histoire. Dits et écrits de Michel Foucault (1954-1988). Paris: Gallimard, 2001b. v. I.

LÖWITH, Karl. Hegel. O sentido da história. Lisboa: Edições 70, 1990.

Publicado
2020-04-30
Como Citar
Cruz Pereira, J. P. (2020). Mia Couto: escrita e racismo — ou “a arrogância de um único saber”. Convergência Lusíada, 31(43), 92-111. https://doi.org/10.37508/rcl.2020.n43a370