Mia Couto: escrita e racismo — ou “a arrogância de um único saber”...

Autores

  • José Paulo Cruz Pereira Universidade do Algarve

DOI:

https://doi.org/10.37508/rcl.2020.n43a370

Palavras-chave:

escrita, oralidade, racismo, teologia, signo

Resumo

Seguimos aqui a distinção estabelecida por Mia Couto entre a escrita como criação literária — um modo de “descoberta da alteridade” — e a escrita como dispositivo técnico e valor cultural que dela nos pode privar. Tomada em sentido metafísico, enquanto representação secundária e exterior do signo — “um significante do significante” —, a escrita é criticamente retomada, por Jacques Derrida, como traço interno à própria linguagem. É também do mesmo ponto de vista crítico que leremos, não apenas Michel de Certeau, em L’Écriture de l’histoire, acerca de uma modernidade colonial marcada pela oposição binária escrita/oralidade, mas também a ideia de Mia Couto de que, se cultural e politicamente dada como fonte de um “único saber”, o sentido comum de escrita pode revelar-se como um último reduto do racismo.

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Biografia do Autor

José Paulo Cruz Pereira, Universidade do Algarve

Nasceu na ilha de Moçambique. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Clássica de Lisboa, onde defendeu, em 1996, tese de mestrado em Literatura Comparada, mais tarde publicada com o título Uma cartografia transtornada: a Guernica de Carlos de Oliveira. Doutorou-se, em 2004, em Literatura Comparada pela Universidade do Algarve, onde leciona Literaturas Estrangeiras de Língua Portuguesa II e Comunicação na Contemporaneidade, e tem ensinado em diversos mestrados — nas áreas dos Estudos Pós-coloniais e dos Estudos Culturais, as quais atualmente investiga como membro do Grupo 7 do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL).

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Publicado

2020-04-30

Como Citar

Cruz Pereira, J. P. (2020). Mia Couto: escrita e racismo — ou “a arrogância de um único saber”. Convergência Lusíada, 31(43), 92–111. https://doi.org/10.37508/rcl.2020.n43a370