Viagem entre Brasil e Portugal

Abstract

Em 1938, a Academia Brasileira de Letras premiou a ainda inédita obra Viagem, de Cecília Meireles. No ano seguinte, a coletânea de poemas foi publicada em Lisboa, pela Editora Ocidente. A premiação do livro pela Academia Brasileira de Letras, entretanto, foi cercada de polêmica. À frente dos acadêmicos que defendiam a atribuição do prêmio a Viagem estava Cassiano Ricardo, que publicou em seguida o livro A Academia e a poesia moderna (São Paulo: Revista dos Tribunais, 1939), documentando as circunstâncias da premiação. Trata-se de uma obra pouco conhecida e não obstante fundamental para a história do Modernismo no Brasil, já que nela se discute, afinal, mais que a premiação de Viagem, a noção de moderno. Neste trabalho, procuro recuperar o importante e esquecido registro feito por Cassiano Ricardo, ao mesmo tempo lançando um olhar sobre o livro de poemas que Cecília considerou, ao definir a primeira edição de sua Obra poética, em 1958, como o marco inicial de sua obra. Viagem, como o próprio nome sinaliza, consiste numa travessia poética moderna que associa, numa via de mão dupla, Brasil e Portugal. Para além disso, a polêmica em torno da premiação de Viagem é também reveladora das circunstâncias em que a escrita das mulheres estabelece seus alicerces no Brasil da primeira metade do século XX.