O Outro Lado de um Crime: O Segredo da Morta, de António de Assis Júnior

Palavras-chave: António de Assis Júnior, Sociedade colonial, Costumes angolanos

Resumo

Este trabalho tem por objetivo discutir a relevância do “romance de cos­tumes” O segredo da morta, de António de Assis Júnior, surgido inicial­mente em folhetim, no jornal A Vanguarda, em 1929, e posteriormente publicado em forma de livro pela editora A Lusitânia, em 1934. Formado na tradição do jornalismo, única forma possível de inserção do inte­lectual na Angola colonial, António de Assis Júnior é considerado pela crítica como o iniciador do romance nesse país. Trazendo como título uma ambiguidade desconcertante, O segredo da morta (romance de cos­tumes angolenses) deixa que a descrição dos costumes e das mazelas da sociedade colonial seja tomada progressivamente pela palavra literária e pela imaginação que ficcionaliza a realidade ao seu redor e serve de fonte reveladora de um crime cometido na cidade, cuja origem se desco­nhece. O elemento que introduz a fantasia é a presença do sobrenatural, responsável por mesclar os dois mundos, combinando a existência real de uma morte misteriosa com a fábula imaginativa que permite o seu esclarecimento. A voz do além ganha, assim, a dimensão daquilo que podemos nomear de realismo maravilhoso, ou realismo animista, particularidade da ficção africana de um modo geral, conforme nos sugere Pepetela, em Lueji (1989).

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Biografia do Autor

Maria Cristina Batalha, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense desde janeiro de 2003. Professora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro na Graduação e na Pós-Gra­duação. Pesquisadora do CNPq (Centro Nacional de Pesquisa). Membro associada do CREPAL (Centre de Recherche sur les Pays Lusophones), da Université Sorbonne-Nouvelle, Paris 3, onde efetuou dois estágios de Pós-Doutoramento em 2007 e 2015. Bolsista do Programa Prociência (FAPERJ/UERJ). Projeto atual: “Escritores ‘menores’: seu legado e contri­buição para o arquivo literário”, vinculado ao Grupo de Pesquisa “Nós do insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica”, do CNPq; filiada à ANPOLL, como membro do Grupo de Pesquisa “Vertentes do insólito fic­cional”. Autora de O fantástico brasileiro: contos esquecidos (2011) e Nel­son Rodrigues: persona (2013) e Páginas perversas: narrativas brasileiras esquecidas (2017). Organizadora das obras coletivas: Literaturas em diálo­go: o Brasil e outras literaturas (2014); (Re)Visões do Fantástico: do centro às margens; caminhos cruzados (2014); Murilo Rubião, 20 anos depois de sua morte (2013); Vertentes teóricas e ficcionais do insólito (2012); Insóli­to, mitos, lendas, crenças: vampiros e feiticeiras, suas múltiplas represen­tações literárias (2011). Artigos publicados em revistas especializadas no Brasil e no exterior.

Referências

ASSIS JÚNIOR, António de. O segredo da morta (Romance de costumes angolenses). Luanda: Ed. Maianga, 2004. Biblioteca de Literatura Angolana, União dos Escritores Angolanos.

CHAVES, Rita. “Literatura, viagem e tradução cultural: suspensão em curso. Mulemba, Revista de Estudo de Literaturas africanas de Língua portuguesa, vol. 12, p. 8-21, 2020. In http://setorlitafrica.letras.ufrj.br/ mulemba/artigo.php?art=artigo_2_11.php. Acesso em 22 abr. 2021.

GUERRA, Henrique. Introdução a ASSIS JÚNIOR, António de. O segredo da morta (Romance de costumes angolenses). Luanda: Ed. Maianga, 2004. Biblioteca de Literatura Angolana, União dos Escritores Angolanos, p. 7-18.

HEYWOOD, Linda. Jinga de Angola, a rainha guerreira da África. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Todavia, 2019.

MUNANGA, Kabengele. Negritude: Usos e Sentidos. São Paulo: Ática, 1986.

PADILHA, Laura Cavalcante. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX. 2. ed. Niterói: EdUFF; Rio de Janeiro: Pallas Ed., 2011.

Publicado
2022-08-14
Como Citar
Batalha, M. C. (2022). O Outro Lado de um Crime: O Segredo da Morta, de António de Assis Júnior. Convergência Lusíada, 33(47), 131-147. https://doi.org/10.37508/rcl.2022.n47a472