Cativeiro e autoria em Purchas his Pilgrimes (Londres 1625)

  • Luciana Villas Bôas UFRJ

Resumo

Nos países que tentavam romper o monópolio ultramarino português e espanhol, adotavam-se políticas propagandísticas e o meio privilegiado para divulgação mais ampla possível das viagens ultramarinas era o livro impresso. O uso da imprensa para desafiar a soberania ibérica e promover os avanços dos concorrentes transformaria o livro impresso em “palco” da disputa entre atores europeus pela posse do “Novo Mundo”. As duas grandes coletâneas de viagens de língua inglesa, Principal Navigations de Richard Hakluyt (1589) e Hakluytus posthumus or Purchas his Pilgrimes (Londres 1625) de Samule Purchas, são marcos dessa nova relação entre expansionismo europeu e tecnologia do livro impresso. Em Purchas his Pilgrimes encontram-se o “Tratado descritivo do clima e da terra do Brasil” e “Do princípio e origem dos índios do Brasil” do jesuíta Fernão Cardim, textos que seriam publicados em português somente em 1847. Este artigo discute, a partir da história de publicação do manuscrito de Cardim, as estratégias de apropriação, publicação, a impressão de materiais roubados em relação à elaboração de justificativas retóricas para a expansão ultramarina inglesa. Na medida em que a pirataria de bens, autores e manuscritos não é apenas representada, mas de fato constitui o livro, Purchas his Pilgrimes não apenas desafia, mas transgride efetivamente as pretensões universalistas da igreja católica e das monarquias ibéricas. Enquanto editor, Purchas não recorre à doutrina protestante, mas a práticas específicas da cultura do livro impresso para a criação de uma jurisprudência para legitimar o comércio, o tráfico, e as conquistas ingleses.

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Publicado
2017-08-26
Como Citar
Villas Bôas, L. (2017). Cativeiro e autoria em Purchas his Pilgrimes (Londres 1625). Convergência Lusíada, 23(27), 73. Recuperado de https://convergencialusiada.com.br/rcl/article/view/151